Tombamento das Cachoeiras da Martinha

Governo realiza o tombamento das Cachoeiras da Martinha

Secom/MT

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Chapada dos Guimarães há muito tempo desperta o interesse de visitantes de várias regiões do Brasil e do mundo, principalmente pela riqueza natural. O Rio Casca, que nasce em Chapada próximo à divisa com Campo Verde, é um dos responsáveis pelo enriquecimento deste patrimônio natural, e nele existem as “Cachoeiras da Martinha”, cinco quedas com o maior volume de água do município. As cachoeiras possuem uma altura que varia de um a dez metros e formam um belo espetáculo da natureza, usufruído pelos habitantes da localidade (Campo Verde, Chapada dos Guimarães e Cuiabá) e pelos turistas. Mas o local também se destaca pela presença de sítios arqueológicos históricos do período colonial.

O entorno dos rios Casca e Quilombo foi palco da ocupação de inúmeros engenhos no sec. XVIII. Das edificações construídas por escravos restam apenas vestígios. Através de pesquisas do Instituto de Populações Tradicionais (ECOSS) e da Fundação de Amparo à Pesquisa de Mato Grosso (Fapemat), foram localizadas ruínas de um Engenho do final do sec.XVIII, que constitui importante sítio arqueológico, nas proximidades do Complexo de Cachoeiras da Martinha. Por ser portador da memória mato-grossense, a Secretária de Estado de Cultura realizou o tombamento dos bens, materiais e naturais, monumentos históricos, naturais e paisagísticos, constituídos pelo “Complexo de Cachoeiras da Martinha e do sítio arqueológico de Engenho”, para o Patrimônio Histórico e Artístico Estadual (conforme lei 3.774 de 20/06/1976).

Dentre os bens naturais tombados, além das cinco quedas d’água do complexo, está a nascente conhecida como “Olho d’água”, que foi descoberta no momento da investigação in loco para este tombamento. A fonte tem esse nome porque a água sai do fundo arenoso provocando um movimento no fundo do lago que aparentemente borbulha. Já no sitio arqueológico constituído pelo Engenho, destaca-se a preservação de paredes e esteios na posição original, fornos e fossos da fabricação da cachaça e canal de escoamento da água para movimentação da roda d’água. A área tombada é de aproximadamente 79 hectares, que junto com a área do entorno totaliza 150 hectares.

HISTÓRIA As referências à colonização da região, hoje conhecida como Chapada dos Guimarães, são anteriores a fundação da Vila do Bom Jesus de Cuiabá (1719).
Os primeiros relatos fazem referência ao ano de 1673, quando a bandeira de Manuel de Campos Bicudo explorou a região. Mais tarde, em 1716, o filho dele, Antônio Pires de Campos, retornou a estas paisagens para marcar a história mato-grossense, com o início da ocupação das “Minas de Cuiabá” e do Coxipó. Inicialmente a área era explorada para a produção de gêneros alimentícios de subsistência. O ambiente propício à abertura de roças, provavelmente as margens dos córregos, abastecia as minas de ouro na Baixada Cuiabana com alimentos, como: feijão, milho, café, mandioca, além de açúcar e aguardente. Nessa época, Chapada era explorada pela Coroa Portuguesa.

O marco histórico desta ocupação é a carta de sesmaria cedida ao Tenente Coronel Antonio de Almeida Lara em 1726, que já ocupava a área desde 1720, exercendo atividades de roças, canaviais e criações. O titulo dava o direito de usufruto da área. Deste modo, a ocupação de Chapada dos Guimarães ocorre simultaneamente à ocupação de Cuiabá e Coxipó.
A aptidão agrícola de Chapada proporcionava as atividades de produção de açúcar, que possuía um mercado internacional bastante rentável. Entretanto o interesse da Coroa Portuguesa no ouro brasileiro culminou na proibição das atividades de Engenho, proporcionando a concentração da força de trabalho nas minas e na exploração do ouro. Em meados do sec XVIII, houve a diminuição da quantidade de ouro extraída e as atividades de Engenho foram liberadas por Dom João V. A partir daí vários Engenhos se instalaram na região de Chapada dos Guimarães, que no início do sec XIX eram mais de 20.

Os Engenhos funcionavam segundo as práticas das Plantations, de origem holandesa, baseadas no mercado de exportação e na mão de obra escrava. Quanto ao nome do complexo de cachoeiras, dizem os moradores que no passado, próximo às margens desta cachoeira, vivia uma linda jovem chamada Martinha. Todos os tropeiros que passavam pelo local davam a desculpa que iriam se banhar na cachoeira, mas iam para ver Martinha.