Comunidade Quilombola Lagoinha de Cima.

Comunidade Quilombola é tema de exposição no Misc

Publicado em Notícias | 23/03/2015

Está aberta, até o dia 22 de abril, a exposição fotográfica Comunidade quilombola Lagoinha de Cima – Lugar de Memória e Território Tradicional Quilombola, no Museu da Imagem e do Som de Cuiabá (Misc), localizado na rua Voluntários da Pátria, 75, centro de Cuiabá, de segunda a sexta, das 9h às 18h. A entrada é franca. A exposição conecta imagens e narrativas das pessoas de Lagoinha de Cima que contam histórias e experiências vividas cheias de afeto, densidade e protagonismo como sujeitos de direito, trabalhadores e trabalhadoras da terra que buscam alcançar os direitos mais básicos para viver.
A exposição é o resultado do fazer antropológico, no projeto de extensão Patrimônio Cultural e Saberes Tradicionais Quilombolas de Chapada dos Guimarães, com a Associação Quilombola Negra Rural de Lagoinha de Cima, município de Chapada dos Guimarães (MT) e Núcleo de Pesquisa em Antropologia Social Artes, Performances e Simbolismos (NAPas) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
O trabalho foi desenvolvido com a participação coletiva da comunidade na identificação das referências culturais que constituem seu território tradicional, lugar habitado por seus ancestrais e seus descendentes há mais de 200 anos. Lagoinha de Cima é uma comunidade reconhecida e certificada pela Fundação Cultural Palmares como “comunidades remanescentes de quilombos”. Com a promulgação da Carta Constitucional de 1988 e do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT 68), as comunidades negras passam a ser reconhecidas por meio do conceito jurídico de “comunidades remanescentes de quilombos”. Esse dispositivo jurídico foi a objetivação cultural das demandas dos movimentos sociais que há décadas reivindicava do Estado o reconhecimento dos territórios tradicionais das comunidades quilombolas. O ADCT 68 estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos”.
Assim, o fazer antropológico pautou-se pela produção de conhecimento e formação de estudantes comprometidos com a cidadania, a ética e a responsabilidade em contribuir com a Associação Quilombola Negra Rural de Lagoinha de Cima junto ao Estado brasileiro para o reconhecimento de sua história sociocultural e de seu território tradicional.
A pesquisa teve o apoio do Departamento do Patrimônio Imaterial do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em autorizar a metodologia do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC), após o treinamento da equipe de bolsistas e pesquisadores do projeto. O INRC é um procedimento de investigação que se desenvolve em níveis de complexidade crescente e prevê três etapas, correspondentes a esses níveis sucessivos de aproximação e aprofundamento, quais sejam:

a) Fase de Levantamento Preliminar: reunião e sistematização das informações disponíveis sobre o universo a inventariar,

b) Fase de Identificação: aprofundamento sobre as referências culturais da área, e

c) Fase de Documentação: desenvolvimento de estudos técnicos e autorais, de natureza eminentemente etnográfica, e produção de documentação audiovisual. Esta última etapa consiste de uma pesquisa etnográfica mais densa com vistas à inscrição do bem em um dos Livros criados pelo Decreto 3.551/00, desde que sob a autorização da comunidade, população e/ou grupo detentora de tal bem cultural (IPHAN, 2006).

A exposição contribui para comemoração do dia 21 de março, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1969, para a defesa do direito à igualdade entre os povos e o direito à diferença. Do ponto de vista histórico, a data surgiu logo depois do massacre ocorrido na cidade de Sharpeville na África do Sul quando a polícia do Apartheid matou 69 negros e feriu 180, no dia 21 de março de 1960.
Comunidades quilombolas e “quilombo”, considerados do ponto de vista antropológico, permite a renovação dos modos de ver e compreender as identidades, a contestação e a diluição da ideologia do branqueamento e da democracia racial vigentes no Brasil. O termo “quilombo” provoca a sociedade brasileira a olhar para si mesma e reconhecer as diferenças que lhe são constitutivas, e as desigualdades sociais produzidas pela negação de outras identidades, assim como, para pautar a cidadania dos afrodescendentes. Apreender a paisagem cultural das comunidades negras de Chapada dos Guimarães é reconhece-las como sujeitos de direito inscritos no tempo e no espaço, coletividades contemporâneas em ação, instituindo significados, dinamizando relações com outrem numa grande rede social mais ampla.

Créditos da exposição:
Coordenação e Pesquisa: professora Sonia Regina Lourenço – DAN, PPGAS, UFMT.
Montagem: Ryanddre Sampaio de Souza – mestrado PPGAS, Museu Rondon de Etnologia e Arqueologia da UFMT.
Fotografias: Juliana Segóvia – Mestrado ECCO, UFMT, Sonia Regina Lourenço, Isadora Quintão Tavares e Jéssica Oliveira de Jesus.
Bolsistas de extensão- acadêmicos da UFMT: Adrianna Amorim de Souza Pinto – Engenharia Florestal, Danielli Katherine Pascoal da Silva, Ciências Sociais, Igor Moura Danieleviz e Silva, Ciências Sociais, Jéssica Oliveira de Ciências Sociais, Isadora Quintão Tavares, Direito, Paulo Cesar de Andrade, Ciências Sociais, Vinicius Campos Mendes, Jornalismo, UFMT.
Vanilde Francisca de Oliveira, Rosinete de Oliveira Valentim, João Bosco de Oliveira Valentim, Madalena Gomes Pereira, Daniel de Oliveira Valentim, Bento de Oliveira Valentim Joao Gualberto Fidélis, Associação Quilombola Negra Rural de Lagoinha de Cima, município de Chapada dos Guimaraes, Mato Grosso.
Realização: NAPas – Núcleo de Pesquisa em Antropologia Social Artes, Performances e Simbolismos. Projeto de Extensão Patrimônio Cultural e Saberes Tradicionais Quilombolas de Chapada dos Guimarães, Edital Proext 2013/ MEC/SESU; Edital 002/2012/FAPEMAT/CNPq, Programa de Infra-Estrutura para Jovens Pesquisadores Programa Primeiros, Projetos – PPP – Fapemat.
Apoio: Departamento de Antropologia, Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) Pró-reitoria de Cultura, Extensão e Vivência (Procev) UFMT.